Olha e Vê

Passam folhas, pessoas, mesas, ruas, cafés, becos, esplanadas, grandes praças...
Olho, sim! Olho! Simplesmente olho. Olho para poder exprimir por onde olhei, para me surpreender.

Ruas majestosamente largas e infinitas rasgadas por ruelas estreitas, mas igualmente mergulhadas em arte.

Lambretas guiadas por senhores, lambretas guiadas pelos famosos ragazzi, todos passam por mim, fazem tornar-se real a imagem divulgada, com expressões como: "Belle gambe!", "Bella Bruna!", "Facciamo una bella vita!"... Parecendo adivinhar o meu próprio nome, mas uma pura coincidência linguística.

Estereótipo ou não, a verdade é que em cada quarteirão se faz avistar mais de três morenos, altos, com a pele cor de mel e cabelo encaracolado, vivamente farto. Reflexos brilhantes dos seus sorrisos são facilmente soltos para estrangeiras interessadas em arte, para eles já tão banal.

Perfumes presos por todos os lugares, que se dissipam com as originais ventoinhas que oferecem também vapor de água, talvez um Dolce & Gabbana ou um Giorgio Armani.

Gelatarias luminosas, com "Gusti", palavra italiana para sabores, originais, "Bacio", ou tradicionais, "Stracciatella". Palavras soltas como "Buongiorno", "Grazie", "Prego", fazem do ambiente algo inigualável, Milano.

Agora sim! Posso dizer que vi... Olhei para toda esta vivacidade e vi-a, assimilei-a, guardei-a para não mais a perder. Se calhar, neste momento, com "Bacio" nas minhas glandulas degustativas, voltarei a olhar sem ver, sem sentir a verità, verdade, que me envolve.

Há realmente uma grande discrepância entre olhar para algo e vê-lo. "Olhei, mas nem vi"...

Será que para Blimunda há também esta evidente diferença, ou uns olhos virtuosos limitam-se a ver e jamais olharão?

Nós, todos nós, em determinado momento desejamos ver a vontade de outrem.
Mas, hoje, eu, vou limitar-me a olhar...
Sem ver...

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